domingo, 22 de maio de 2016

NOTEBOOK DA GARDUNHA


Os festivais de literatura são todos iguais, embora uns sejam mais simpáticos do que outros. O da Gardunha foi especialmente caloroso. Começou bem, sexta-feira à noite, com um jantar volante na Casa dos Maias, um solar barroco do século XVIII. Dividimos uma mesa no jardim com o embaixador Marcello Duarte Mathias e o Gonçalo M. Tavares. Boa conversa durante umas horas. Reencontrei o Fernando Echevarría que não via desde Paris e o Pedro Loureiro que não via desde que deixou de ser nosso vizinho (ainda tivemos tempo de ir ver a sua exposição de fotografia). Conheci o Fernando Paulouro das Neves e o filho, Ricardo, bem como o Tiago Salazar. Amigos que revi foram vários: Ana Nunes Cordeiro, José Mário Silva, Manuel da Silva Ramos e Rui Lagartinho. Ao longe vi Fernando Dacosta, que desapareceu entre as palmeiras. Havia mais umas trinta pessoas, mas a minha memória já não é o que era. Razões sérias de saúde impediram a ida de Cristina Carvalho, José Viale Moutinho, Manuel Gusmão e Paula Tavares. Sempre atenta, Margarida Gil dos Reis, a alma da organização, zelava por tudo. Passava da meia-noite quando regressámos ao hotel, o Cerca Design House, em Donas.

Por razões de ordem particular, estive no Fundão apenas dois dias. Margarida Gil dos Reis foi uma anfitriã de mão cheia, atenta aos horários e outros pormenores. Ontem, sábado, foi a abertura oficial, no edifício da Moagem, dita Cidade do Engenho e das Artes. Fernando Paulouro das Neves fez as honras da casa e apresentou o poeta e ensaísta espanhol César Antonio Molina (antigo ministro da Cultura de Estanha), que fez uma conferência sobre o tema da ‘caminhada’ em literatura, com enfoque em Cervantes. Como não via Molina há quase trinta anos, foi um reencontro. Seguiu-se a primeira mesa, com Ana Margarida de Carvalho, Fernando Dacosta e Gonçalo M. Tavares. Margarida Gil dos Reis moderou. Tive oportunidade de conhecer Mbate Pedro, poeta moçambicano nascido em 1978, membro da União Mundial dos Escritores Médicos. Seguiu-se o almoço, que juntou oitenta pessoas, distribuídas por oito mesas com dez comensais cada. Na minha ficaram Margarida Gil dos Reis, Marcello Duarte Mathias, José Carlos de Vasconcelos, Paula Morão, Fernando Guimarães, Maria de Lourdes Guimarães, Ricardo Paulouro Neves, mais um jovem que não consegui identificar e, naturalmente, o Jorge, meu marido. Duas horas de boa disposição. Seguiu-se a mesa em que participei, com Paula Morão e Marcello Duarte Mathias, moderada por Maria João Costa. Conversa rápida com Helena Buescu. Depois não vi mais nada, porque tive de regressar a Lisboa. Hoje, domingo, chegam a Clara Ferreira Alves e o Pedro Mexia, mas já não ando por lá.

E agora a parte antipática. Presumo que seja do interesse dos editores vender os livros que publicam. Digo eu, que não sou comerciante. Seria natural que estivessem atentos aos festivais literários e eventos afins. Infelizmente, nem todas as casas editoras pensam assim. Isto para dizer o seguinte: a organização do Festival Literário da Gardunha contactou cinco editores de livros meus, e eu próprio alertei as pessoas certas. Aconteceu o quê? A Dom Quixote, a Tinta da China e a Planeta fizeram o que deviam. Mandaram os livros e eles venderam-se todos: Desobediência, poesia (o primeiro a esgotar); Cadernos Italianos, diário de viagem; e Cidade Proibida, romance. A Quetzal e a Ulisseia assobiaram para o lado. Em vão as pessoas procuraram Um Rapaz a Arder, volume de memórias, e Pompas Fúnebres, colectânea de crónicas. Os livros existem para estar disponíveis. Eu sei que não é de ‘bom tom’ falar destas coisas. Mas esse é o lado para que durmo melhor.

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